quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O ADVOGADO


O orgasmo, escorrendo pela parede,
Eram todo os meninos crescidos, éramos homens enlouquecidos, com os pelos eriçados, os dentes amarelados, os vasos entupidos,
O cheiro velado nos olhos escuros, eu estava preso e amarrado, eu estava preso e amarrado nos gritos impotentes desse prazer, desses homens do escuro, que me encostavam sem eu sentir, não podia sentir nada, não podia, estava algemado, estava preso nas sua maldições, nos seus olhos das sentenças de um santo magistrado, dos advogados puros que nunca sentem orgasmo, e todos eles berravam no tribunal, e se esfregavam no púlpito de carvalho legal, onde rezavam as tuas leis, onde tuas sobrancelhas me inquiriam, na sisuda inquisição dos tempos sem curva entre as entrelinhas que habitam um pensamento e outro...curvado estava para as santas penetrações, para as tábuas duras, eu estava para as tábuas duras pregado e pendurado como um estagiário nos penais corredores , a duras penas, como cristo antiquado de ponta cabeça, nos falatórios dos monastérios surdos dos telejornais repetitivos,  os papeis que limpavam os ânus sujos onde coloco minha língua, onde enfio os meus dedos, as paredes das carnes onde deposito os restos das minhas unhas mal aparadas, quando o machucava sem saber, arranhando suas entranhas sem querer, não podia arranhar, não podia colocar as mãos no interior sagrado sem estar com os dedos limpos, com as garras bem feitas, com o cheiro de respeito no tato, não, e eles não ligavam, aqueles senhores todos, que vinham com as perucas e se roçavam na minha perna, e raspavam com a lixa de suas línguas os restos de vida dos meus tecidos, das sedas encardidas, dos veludos machucados, dos algodões amargos, dos cetins sofridos, os tecidos dos meus pedaços espalhados pelos cantos estreitos dos espetáculos constitucionais da sodomia mortuária, era ridículo, me sentir  o menor dos seres do mundo naquele escarcéu de palhaços suicidas, e não poder me matar com as mesmas intensidades, não poder viver toda aquela vida fenomenal que existia na morte de cada fascínio de um orgasmo absoluto transcendental, não, aquilo tinha que ser muito mais livre do que era, e na vista de todos os olhos, aquele tremer por todo o corpo, aquele iniciar tinha que ser profundo e sem traumas, porém tuas sobrancelhas castradoras sempre apareciam no meio da madrugada, no intervalo dos mergulhos para interromper com as cataratas das entranhas libertárias da vida em pulsação supra-terrena... Não, não tinha a toga para me limpar, não, não tinha sequer o direito de usa-la... advogado? De que? De merda? Que direito tenho em mim? Direito de ser eu e nada mais, direito de ser, e ponto, isso me basta. É o único direto que nos cabe.  O direito do livre orgasmo do ser, fora do quadro pendurado nas paredes, fora das molduras. Fora dos brasões e dos engessamentos diplomáticos. Fora. O direito do orgasmo pluricelular. Todos os líquidos seminais... dentro de mim e do meu direito de ser em mim contínuo e absoluto. Sim, tudo isso e nada mais.

FC 

Nenhum comentário:

Postar um comentário