O quarto escuro da cela, era o meu quarto, todos os homens
do mundo estavam ali, e eu estava bem no centro, amarrado, preso no meio da
cama feito um porco no altar negro das defecações... não sentia o gosto da
merda, ainda não, ela devia estar por todos os lado, nas paredes, nos saltos
daqueles soldados, esbeltos e com cicatrizes nos olhos, as faces rachadas,
seguravam as metralhadoras em punho, os caralhos apontados, estavam todos
circulando o meu caixão, era o leito negro que me cercavam os corvos, sinto muito
diziam eles e sem mais nada a dizer eles gargalhavam, as risadas diabólicas,
elas viam, e viam, como as gralhas dos pesadelos infantis, as minhas aquarelas
sem cores estavam ali, nos lençóis sujos, no vazio do dia que não nascia, nas mãos
que eu não conhecia, no adeus que não existia, no gosto de plástico daquelas
bocas, os plásticos que não eram usados nos caralhos, os caralhos enrijecidos,
as pílulas dos brinquedos do super homem, estávamos todos ali, no ritual
apodrecido daquele boa noite de uma madruga sem fim, era o meu quarto do
desespero a voz dessa garganta que fala, que engole, que cospe, que beija a mãe
no dia seguinte, preso no altar das negras cúpulas vermelhas, era o meu corpo
estraçalhado, aos pedaços que procurava um pai no meio da vida, um pai no meio
das sombras de um nada que nunca foi vida, que nunca existiu, uma ausência de
ser que nunca vai existir em lugar nenhum, em nenhum dos infernos da terra, ele
nunca vai estar lá, nos olhos de nenhum demônio, ele nunca vai estar lá, na
lâmina de nenhum carrasco ele nunca vai estar lá, nunca, nunca mais vai estar
em um só, pois pertence a todos os males e todas as punições não seriam
suficiente para justificar sua carne, nunca bastaria... nada para parar de
sofrer, apenas aceitar os sorrisos fora dos castiçais vermelhos, sim, os santos
são eternos enquanto eles duram... o pai eterno dentro de mim, o quarto tinha
um brecha para luz entrar pela janela, era o amanha, e seu rosto trincado
envelhecido rugindo feito um cão feroz ja estava se desmanchando no bolor enfumaçado
dos seus olhos rancorosos.....
FC
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